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3 dicas práticas para degustar vinho como um profissional

Luciana Mastrorosa

11/08/2017 04h04

Tem muita gente que adora vinho, até tem vontade de fazer um curso sobre o assunto, mas não quer se arriscar em algo muito técnico ou profissional, de longa duração. Nesses casos, uma opção bacana são os pequenos cursos oferecidos por importadoras e escolas, com duração de poucas horas e muita oportunidade de aprender. E, claro, se divertir também e provar vinhos de alta qualidade, que normalmente custam mais do que a gente pode pagar no dia a dia.

A Grand Cru, importadora com diversas lojas espalhadas pelo Brasil, está investindo nesse formato com carga horária curta no projeto Grand École. As aulas ocorrem em várias cidades e são bem focadas (custam R$ 269 por pessoa). Dá para aprender sobre diversos temas interessantes do mundo da enologia, desde uma introdução geral ao mundo dos vinhos até o básico de degustação ou mergulhos específicos para conhecer as grandes regiões vinícolas do mundo, como Bordeaux, na França, e Toscana, na Itália. O único "problema" de fazer aula dentro da loja é que dificilmente você vai conseguir controlar o bolso e sair sem nenhuma sacolinha na mão…

Um dos módulos mais bacanas para quem quer começar é o de Técnicas de Degustação. A aula é leve, divertida e você coloca o olfato à prova, tendo que adivinhar 25 aromas diferentes (acertei 15, já fui melhor, viu). Amandine Castillon, sommelière do grupo, comandou a ação e nos convidou a degustar quatro rótulos diferentes, dois brancos e dois tintos. Toda a degustação foi feita às cegas, para a gente não se influenciar pelas origens das bebidas. E a diferença entre os vinhos do Novo Mundo e do Velho Mundo (no caso dessa aula, Chile, Argentina, França e Itália) são realmente muito grandes. Os latinos eram nitidamente mais exuberantes, com aromas e intensidade que saltavam da taça, enquanto os europeus eram mais austeros e contidos, mas não menos interessantes.

Ficou com vontade? Que tal organizar uma degustação com os amigos? Peguei algumas dicas para você aplicar em casa, só tome o cuidado de "vestir" a garrafa (com um saquinho de tecido ou com o bom e velho papel alumínio, mesmo), para que ninguém se influencie pela cor. E não se deixe levar pelo estereótipo dos enochatos: tomar vinho é para todos e não precisa (nem deve) ser algo pedante ou inacessível. Vamos lá?

Exame visual: um passeio da cor às "lágrimas"
O vinho é uma bebida viva, ou seja, sua tonalidade começa de um jeito quando o vinho é jovem e termina de outro, bem diferente, quando ele está no fim da vida. O curioso é que brancos e tintos chegam à mesma cor puxada para o âmbar ou alaranjado quando morrem, mesmo tendo nascido completamente diferentes. Os mais claros, por exemplo, podem ir do extrabranco até um belo tom dourado, enquanto os tintos, em geral, partem do púrpura ou rubi intenso e vão lentamente perdendo cor, chegando a um granada. Observar a coloração é, portanto, uma das primeiras pistas para analisar o vinho e saber se ele é jovem ou maduro. Ainda no aspecto visual, gire a taça e observe os arcos e "lágrimas" que escorrem pelo vidro: elas são formadas basicamente de álcool e glicerina. Quanto mais os arcos ficam próximos um do outro (mais fechados), mais álcool o vinho tem. E as lágrimas: quanto mais lentas para descer, mais glicerina e açúcar residual possuem (é a glicerina que vai dar aquele tom untuoso da bebida na boca, fazendo o vinho "descer redondo").

Aquela giradinha no copo faz a diferença no nariz
Depois de analisar os aspectos visuais, está na hora de colocar o nariz na taça. O vinho apresenta dezenas de aromas, que podem ser agradáveis como florais e cítricos, ou defeituosos, como ovo podre, borracha e até verniz de unhas! Alguns são muito, muito sutis, por isso gira-se a taça (não é por afetação, juro): com o movimento, os aromas mais pesados conseguem subir até o nariz, e fica mais fácil identificá-los. O tipo de uva, o solo em que a videira cresceu e a forma como o vinho é produzido (se passa ou não por barricas de carvalho, por exemplo) interferem nos aromas da bebida. No material que acompanha a degustação vem a útil roda de aromas do vinho, que mostra tudo aquilo que é possível de encontrar na taça. Acha difícil distinguir qualquer tipo de cheiro na bebida? Experimente um Chardonnay novo, argentino, que pode ter bastante aroma de abacaxi. Os brancos da uva Gewürztraminer também são ótimos para sentir perfumes florais com bastante clareza, como flor de laranjeira e até rosas. Importante mesmo é a "litragem": quanto mais tipos diferentes você provar, mais facilmente identificará os aromas. Atenção: se sentir um cheiro forte de pano molhado ou de bolor, sinto dizer, mas o vinho estragou.

O teste do paladar: sua boca amarra ou enche de água?
Finalmente chegou a hora mais feliz: provar o vinho. Aqui, se prestar um pouco de atenção, conseguirá notar duas características muito nítidas, a acidez (quando a produção de saliva é abundante e a boca fica cheia d'água) e a adstringência (quando a boca fica seca, como quando comemos uma banana verde). A primeira pode ser marcante tanto em brancos quanto em tintos (embora seja uma característica bem típica dos primeiros). E a adstringência pode ficar mais evidente nos tintos, por causa da presença dos taninos. Um vinho equilibrado é aquele em que nada é exagerado a ponto de se tornar desagradável. Sobrou aquela sensação muito forte de álcool na boca? A boca amarrou tanto que você precisou de um gole de água? Talvez o vinho esteja ainda muito jovem (ou seja de menor qualidade). Mas isso não significa que a bebida está estragada, são só suas características individuais. E o mais divertido é que, com o tempo, você aprende a distinguir não só o tipo de cada vinho, mas também quais são aqueles que fazem seu coração bater mais forte.

Veja também o que já falamos sobre vinho antes, relembrar nunca é demais. E me diga: qual seu vinho favorito?

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.