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Tem dúvidas sobre introdução alimentar para o bebê? Comece por aqui

Luciana Mastrorosa

08/03/2018 08h00

Crédito: iStock

Para quem tem criança em casa, a alimentação é um desafio e tanto. Com inúmeras evidências e dados sobre obesidade e doenças crônicas ligados ao que a gente come e ao estilo de vida, dá até um frio na barriga na hora de ensinar aos pequenos o que colocar no prato, né?

Hoje a minha filha está com três anos e já passou da fase mais crítica de apresentação dos alimentos, mas considero a alimentação infantil um trabalho perene de educação e orientação para formar o paladar. Uma tarefa não apenas da mãe e do pai, e sim de todos: família, escola e amigos. Afinal, é na infância que temos a chance de apresentar aos filhos um cardápio que seja gostoso, nutricionalmente adequado e inserido em sua cultura alimentar.

Um dos maiores desafios é a questão do açúcar. Se você tem um bebê de seis meses que está prestes a começar a ingerir comidinhas, a maior dica de todas é: não dê açúcar para seu filho, ao menos até os dois anos. Nessa fase, o fundamental é apresentar uma grande variedade de alimentos naturais aos pequenos, com o doce vindo naturalmente das frutas. E, claro, comida caseira e fresca.

Essa recomendação não é minha, mas da OMS (Organização Mundial da Saúde), endossada por diversos profissionais de saúde e pesquisadores na área de doenças crônicas não-transmissíveis. Doenças como hipertensão e diabetes são consideradas uma carga mundial, pois representam a principal causa de mortalidade no mundo hoje. E o que está cada vez mais evidente é que o desenvolvimento de tais enfermidades começa muito cedo na vida de uma pessoa, sendo fundamental criar bons hábitos o quanto antes. Ou seja, o consumo de açúcar e de doces, além de bebidas açucaradas, pode predispor a criança a ter problemas no futuro.

Orientação do pediatra e dos guias alimentares

Para fazer a introdução alimentar da minha filha, segui as orientações da pediatra dela, que focavam principalmente em manter a amamentação (que foi exclusiva até os seis meses de idade e durou até 1 ano e 10 meses) e apresentar a ela uma grande variedade de alimentos, a começar por frutas, verduras, legumes e tudo o que fosse caseiro e bem natural. Assim, comecei oferecendo apenas uma fruta e aguardei para ver se não dava alergia antes de apresentar uma opção diferente. Isso ajuda a identificar não apenas o que o bebê irá gostar ou não, mas como aquele alimento será recebido por ele.

Depois, introduzi aos poucos os vegetais, amassados com um garfo, e não batidos, para que ela pudesse sentir a textura dos alimentos, ver sua cor e sentir o cheiro. Temperava com azeite extravirgem e um mínimo de sal, mas fui acrescentando com o tempo sempre alguma verdura e temperos (como cebola, alho e ervas frescas). Em seguida, começaram a vir os grãos e cereais, feijões e também as carnes. Eu fazia muitos caldos caseiros com ossos, cenoura, cebola, alho-poró e salsa, usando isso para enriquecer sopas e os demais preparos diários. A partir de 1 ano, ela já comia praticamente tudo o que a gente, e adorava.

Crédito: iStock

É importante deixar a criança tocar na comida. Existe uma técnica chamada BLW ("baby-led weaning") que é parecida com a introdução que eu fiz. Basicamente, trata-se de oferecer ao bebê alimentos em pedaços maiores com a ideia de que a criança mesmo possa pegar com suas mãozinhas para ir experimentando o mundo. Exemplo: brócolis, cenoura, mandioquinha e batata cozidos. Vai ter bagunça? Vai. Sujeira também? Muita. Mas isso faz parte do desenvolvimento infantil e vai ajudar a torná-la um ser menos enjoado para comer, mais seguro e receptivo a novos sabores (na infância e na vida).

Além da orientação da pediatra, contei muito com a ajuda dos guias alimentares produzidos no Brasil. O primeiro deles é o Guia Alimentar para a População Brasileira (edição de 2014, disponível para download aqui), que sempre recomendo por aqui. O documento serve para orientar a todos os brasileiros sobre as boas escolhas alimentares, levando em conta a riqueza de produtos e a variedade de pratos e culturas gastronômicas que temos no país. É um documento muito valioso, que indico a todo mundo que me procura para aulas de cozinha ou simplesmente para saber como começar a se alimentar melhor. A ideia é: quanto mais qualidade tiver na dieta de toda a família, melhor a criança tende a comer. Por isso, não vale caprichar no arroz, feijão, picadinho e legumes só para seus filhos, enquanto você come qualquer coisa congelada e toma refrigerante, certo?

Outro documento que me ajudou demais foi o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos, também do Ministério da Saúde (download gratuito aqui). Esta versão já é antiga, de 2002, mas ainda traz informações importantes para dar um norte aos pais. A gente sabe que a fase de introdução alimentar deixa a família toda insegura, especialmente a mãe, que ainda, e infelizmente, é tida como única responsável por alimentar seu filho e fazer as melhores escolhas. Isso está mudando, para o bem de todos, porque a alimentação da família é responsabilidade de toda a família. Dentre outras coisas, esse guia informa sobre amamentação e indica 10 passos para uma alimentação saudável. O passo 8 é bem claro: "evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida (…)".

Não tenha medo de cozinhar (e de pedir ajuda)

Você sabe que eu sou uma entusiasta da culinária, né? Não apenas porque gosto de comer, mas, principalmente, porque a considero uma das principais ferramentas para uma vida saudável. Se você sabe o que fazer com os alimentos, e transformá-los em algo delicioso para si, pode se alimentar onde estiver. Isso certamente irá contribuir para uma alimentação mais variada, saudável e atraente para seus filhos. Por isso, uma das muitas benesses que a maternidade acaba trazendo, ao meu ver, é um retorno bem-vindo à cozinha. Caso seja o principal responsável pela alimentação de seu bebê, não tenha medo de cozinhar.

Mesmo que você não tenha noção, e que nunca tenha feito isso na vida, uma simples porção de legumes no vapor já será bacana de mostrar para o seu filho. Criança precisa de comida fresca, saudável, feita com ingredientes naturais, pouco sal, gorduras de boa qualidade, temperos frescos… e muito carinho e amor. Comece preparando coisas simples e vá aumentando a complexidade à medida que a criança puder comer outras coisinhas. Faça sempre comidas para ele e para você, assim todo mundo passa a se alimentar melhor. A partir do primeiro ano, geralmente a criança já começa a se alimentar da comida dos pais, mas isso não significa que você vai oferecer um monte de frituras e embutidos, né? Se precisar, peça ajuda. Um cozinha, outro lava a louça, que tal?

Se você quer ideias de receitas, a culinarista e apresentadora Rita Lobo, do site Panelinha, lançou um livro muito bom recentemente chamado "Comida de Bebê – Uma Introdução à Comida de Verdade" (Editora Senac São Paulo, R$ 59), em parceria com médicos e nutricionistas do Nupens/USP. Além do livro, é possível conferir diversos vídeos falando do que oferecer ao bebê e receitinhas apetitosas para formar o paladar do seu filho, melhorando os hábitos de toda a família. Os vídeos podem ser acessados no canal do Panelinha no Youtube.

É preciso ter bastante paciência no processo de introdução alimentar e também oferecer várias vezes os mesmos alimentos, ainda que a criança os rejeite das primeiras vezes. Não acredite no mito de que elas não comem verdura: comem sim! E podem, inclusive, gostar bastante. Na dúvida, lembre-se sempre de procurar uma boa nutricionista e de conversar bastante com o médico do seu filho sobre as melhores abordagens para a sua criança. Cada ser é único, com suas exigências e particularidades.

Por fim, queria lembrar que considero o equilíbrio a chave de tudo. Quando seus filhos forem maiores, não existe problema em oferecer uma sobremesa gostosa, um chocolate de boa qualidade, um sorvete bem feito ou aquele bolo de fubá que você faz tão bem, para variar as refeições de vez em quando. Aos poucos, eles mesmos vão compreendendo que a comida do dia a dia é deliciosa e não apenas nutritiva, mas também uma fonte de cultura, prazer e uma bonita forma de amar.

Você tem filhos? Está passando pela fase da introdução alimentar? Me escreva, vou adorar saber como está esse processo por aí. Estou no Facebook e também no Instagram.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.