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Rótulos afetam a saúde? Entenda novo modelo do Uruguai e como está o Brasil

Luciana Mastrorosa

13/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Em termos de nutrição, quanto mais informação e evidências científicas, melhor. Porém, a realidade é que a gente se perde nesse mar de informações e acaba não conseguindo decidir se o que está consumindo é saudável ou não. Uma das ferramentas para orientar nessa escolha, como sempre falo aqui no Menu do Dia, é o Guia Alimentar para a População Brasileira. Mas, no dia a dia, a gente acaba se guiando mesmo pelas informações nutricionais expressas nos rótulos dos alimentos, em particular os industrializados. Quando você pega um produto na mão, consegue compreender realmente o que significam todas aquelas informações presentes nos rótulos? Como saber se o teor de sódio está acima do recomendado ou se a gordura presente naquele biscoito é excessiva?

Rotulagem frontal na tendência

Com base nisso, há uma proposta de rotulagem frontal dos alimentos em pauta atualmente no Brasil, a exemplo do que já ocorre em outros países. A discussão segue acalorada, ainda mais agora que o Uruguai acabou de tornar obrigatório esse tipo de rótulo no país. O diferencial da rotulagem frontal é que os produtos passam a conter não apenas as informações nutricionais básicas daquele alimento –como a quantidade de carboidratos, gorduras, proteínas e sal — como também um selo de advertência bem destacado na parte da frente da embalagem.

Esse selo –um octógono com as cores branca e preta — pretende avisar o consumidor sobre potenciais riscos daquela comida para a saúde, apontando excessos de gorduras, gorduras saturadas, sódio e açúcar, seguindo o que preconizam as evidências científicas mais recentes. Afinal, já se sabe que uma dieta desequilibrada, com excesso desses nutrientes, pode contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes. Com essa nova rotulagem, os alimentos mostram de maneira mais explícita os eventuais riscos que podem conter.

Características dos rótulos propostos pelo Idec

No Uruguai, com a aprovação recente da proposta, a indústria tem 18 meses para se adaptar às novas regras. O interessante disso é que o país se inspirou bastante no nosso Guia Alimentar para elaborar seu próprio guia e promover diversas alterações na forma como trata a alimentação e a saúde pública por lá. A medida foi adotada como uma forma de conter o avanço do número de pessoas obesas e com sobrepeso no país (que passou 52,5% para 64,9% entre 1999 e 2013). Por aqui, vários modelos de rotulagem estão sendo analisados pela Anvisa. Dentre eles, o do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (conheça a proposta aqui) é baseado no modelo de rotulagem frontal já em vigor no Chile.

Como estão nossos rótulos hoje

Em termos de alimentação, creio que não podemos vilanizar a indústria nem culpá-la somente pelos índices crescentes de excesso de peso e doenças crônicas no Brasil, mas, sim, de trabalhar junto com ela para que nossos produtos sejam cada vez mais transparentes para o consumidor. Nossos rótulos atuais obrigatórios já fornecem informações relevantes sobre os alimentos, como as quantidades de macro e micronutrientes, como mencionei acima, além da lista completa de ingredientes usados na formulação.

A questão é que isso nem sempre se apresenta da maneira mais clara para quem está consumindo o produto. As informações muitas vezes são mostradas em letras miúdas e nem todo mundo consegue interpretá-las e saber seu real significado. Um tablete de chocolate, por exemplo, que tem açúcar como primeiro item da lista de ingredientes certamente terá um teor de carboidratos muito elevado e, possivelmente, maior até do que o teor de cacau, pois sabemos que o primeiro componente da lista é sempre o que existe em maior quantidade no produto. Nesse sentido, pode ser uma boa também para o Brasil seguir o caminho do Uruguai e apostar nessa simplificação das embalagens, com informações mais imediatas, simples e claras.

Você costuma ler os rótulos dos alimentos que consome? Acha que nossa rotulagem precisa de mudanças? Conte para mim! Estou no Facebook e também no Instagram.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.