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Seu chá de todo dia está sem graça? Experimente colocar flores, frutas e temperos

Luciana Mastrorosa

18/08/2017 08h00

(Foto: iStock)

Num país de adoradores de café (eu, inclusive), falar de chá pode parecer sem propósito. Ainda tem gente que acha que um chazinho é só remédio para quando a gente está doente. Mas não se deixe enganar, chá é uma delícia, vai bem quente ou gelado e o melhor: dá para fugir das combinações prontas de saquinho e fazer seus próprios blends.
Para começar, vale lembrar que chá, mesmo, é só aquele feito com as folhas da Camellia sinensis, erva popular na Ásia, principalmente China e Japão. É com essa planta que se produzem os chás preto, verde, branco, oolong — a diferença está, basicamente, na fermentação pela qual as folhinhas da Camellia podem (ou não) passar. Não é incrível como um único produto pode gerar tantos resultados diferentes? O que a gente chama popularmente de chá, como os de mate, camomila e hortelã, são tecnicamente infusões.

Mas não deixe a nomenclatura te impedir de provar essas delícias. Uma boa dica para quem está começando a provar chás (e infusões) diferentes é comprar os produtos a granel. Existem diversas lojas online e também físicas para comprar ervas em pequenas quantidades para fazer suas misturas. Se você está em São Paulo, uma boa opção são as cerealistas do centro da cidade.

Veja abaixo algumas dicas para começar a fazer seus chás personalizados:

Escolha a sua base: qual é o seu favorito?
Antes de tudo, é fundamental escolher o chá ou a erva que servirá como base para a sua bebida. Entre os chás ditos "verdadeiros", o preto, o verde e o branco são os mais fáceis de encontrar por aqui. O chá preto é intenso, amadeirado e, se deixado em infusão por muito tempo, fica tão forte que até lembra a potência de um café – tanto que é costume tomá-lo com leite em outros países, como a Inglaterra. Combina muito com cítricos, como casca de laranja ou mexerica seca e rodelas de limão, além de especiarias igualmente intensas, como canela e cravo. O chá verde, tipicamente japonês, é mais fresco no paladar e vai superbem com hortelã (principalmente as folhas frescas) e jasmim, que traz um perfume muito agradável. O branco é o mais suave de todos e fica uma delícia com casquinha de mexerica e ervas delicadas, como a camomila. Não gosta dessas bases? Sem problemas! O nosso mate é maravilhoso para misturas também: limão e laranja são clássicos, mas com gengibre, canela e uma gotinha de baunilha fica imperdível e muito perfumado. E, para uma opção sem cafeína, aposte no rooibos, típico da África e com um sabor naturalmente puxado para a baunilha. É mais difícil de achar e um tanto caro, mas muito fácil de tomar (e misturar).

Ervas frescas ou secas?
Os chás de Camellia sinensis e o mate são sempre encontrados secos. Mas algumas ervas estão disponíveis frescas e ficam ótimas em infusões. A hortelã é a mais básica de todas e, sozinha, rende uma bebida refrescante, digestiva e aromática. É uma das mais indicadas para tomar depois das refeições. Mas não se limite a ela, tem outras opções deliciosas: erva-cidreira ou capim-limão (o fresco é muito mais aromático), melissa, orégano, sálvia, tomilho, poejo… Até o alecrim fica gostoso, se usado em pequena quantidade. Comece com um raminho (ou uma colher de chá da erva seca) e vá ajustando ao seu gosto. Algumas ervas são menos usadas no dia a dia, mas também ficam ótimas na xícara: sabugueiro, tília e artemísia são algumas delas. Como algumas variedades também têm propriedades medicinais específicas (como as clássicas amargas boldo ou carqueja, por exemplo), convém não exagerar na dose.

Especiarias, flores e frutas para aromatizar
Depois de conhecer bem o sabor dos chás de base e as ervas, é hora de fazer misturas. Especiarias que combinam bastante são: gengibre (ralado fresco ou em rodelas finas), canela em pau, cravo, anis estrelado, cardamomo. Uma pontinha de pimenta preta pode ficar agradável também. Entre as flores, aposte em botões e pétalas de rosa secas (de boa qualidade, próprias para isso), jasmim, calêndula, hibisco (dá uma cor rosa, linda!), camomila. As frutas acrescentam um toque azedinho ou adocicado: vá de rodelas frescas de limão ou laranja ou cascas secas de laranja e mexerica, além de fatias de maçã (seca ou fresca), pera e pêssego, cubinhos de abacaxi ou frutas vermelhas. Cascas de maçã seca também rendem excelentes infusões, fica uma delícia com chá preto.

Adoçar ou não adoçar, eis a questão
Prefiro chás e infusões sem açúcar, para apreciar melhor o sabor das ervas e misturas. Se você prefere adoçar, os resultados ficam melhores com mel (que acabam trazendo outros perfumes também) e melaço de cana. O tradicional açúcar deixa um sabor adocicado mais neutro. Eu só evitaria os adoçantes, que deixam um residual amargo. Use só se você gosta ou precisa.

Preparo sem erro
Cada chá tem a sua especificidade e tempo de preparo, em geral as sugestões de quantidade e tempo vêm indicadas na embalagem. Porém, se você comprar a granel, sugiro começar sempre com uma colher (chá) da erva seca para uma xícara de água fervente. O tempo varia de acordo com o gosto e a característica de cada erva. Chás verdes e brancos podem ficar com sabor adstringente demais se deixados muito tempo na água, então sugiro começar com um ou dois minutos em infusão e ir ajustando de acordo com seu paladar. O preto eu costumo deixar 3 a 4 minutos. Mais que isso, fica amargo demais para mim, mas só testando você saberá qual a sua preferência.

Na hora do preparo, coloque as ervas em infusores, derrame a água recém-fervida sobre elas e deixe a xícara tampada pelo tempo necessário. No caso das infusões, o tempo em contato com a água pode ser maior. Camomila, hortelã, cidreira, melissa, etc., eu costumo deixar até 10 minutos, quando a planta não amarga demais e quero um sabor intenso e profundo. As ervas frescas podem necessitar de mais tempo de infusão também, para extrair cor e sabor. Especiarias, raízes e cascas de plantas podem necessitar de decocção, que é uma forma de preparar a bebida fervendo-se ligeiramente as plantas por alguns minutos (sempre em fogo baixo). É o caso do gengibre, por exemplo. Se usar chás com misturas de ervas, frutas e especiarias, siga o tempo de infusão do chá de base. E, claro, se não tiver infusor, coloque as ervas na xícara mesmo e coe sempre o seu chazinho antes de tomar.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.