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Mel de abelha nativa brasileira é bem diferente do tradicional. Já provou?

Luciana Mastrorosa

26/10/2017 08h00

Degustação de queijos e diversos tipos de mel de abelhas nativas, na Gelato Boutique, de São Paulo (foto: divulgação)

Se você está acostumado apenas a consumir mel comprado no mercado, tradicional, com o máximo de variação entre flor de laranjeira e eucalipto, vai se surpreender com os sabores das doçuras produzidas por abelhas nativas brasileiras. Este mês, a Gelato Boutique, na capital paulista, destaca justamente esses produtos em seu menu de sorvetes artesanais. Usando mel de jataí, borá, tiúba, mandaçaia, uruçu boca de renda e uruçu amarela, a chef gelatière Marcia Garbin (já conhecida por priorizar ingredientes naturais em suas receitas) preparou uma linha especial de sorvetes em que o sabor doce vem exclusivamente do mel.

Todo ano, a chef lança alguns sabores especiais na entrada da primavera, geralmente com flores. Este ano, porém, preferiu aproveitar o momento para destacar os meles (esse plural me intriga…), principalmente das nativas, que estão em alta.

A degustação ocorre de duas formas: na primeira (R$29), seis meles de abelhas nativas são servidos puros ao lado dos sorvetes preparados com eles – cada um destaca um tipo específico de abelha (o de uruçu boca de renda, branco e quase mentolado, é delicioso!).

Para os que gostam de desafios diferentes, a chef criou um segundo tipo de degustação (R$ 48), desta vez combinando queijos de leite cru brasileiros (dos mais suaves aos bem intensos), espumante orgânico, pães de fermentação natural e gelatos feito com mel das nativas. Os preciosos meles são fornecidos pela Mbee, direto da Fazenda Itacá, na Serra da Mantiqueira.

Sorvete feito de mel de abelhas nativas, na Gelato Boutique, de São Paulo (foto: divulgação)

Mel de apis, mel de nativas
As abelhas que conhecemos são aquelas listradas de preto e amarelo, com uma picada bem doída. Elas pertencem ao gênero Apis, e produzem o mel tradicional a que estamos mais acostumados. Os mais comuns nas prateleiras brasileiras são o de flores silvestres, o de flor de laranjeira (mais suave e delicado) e o de eucalipto (escuro e denso). Essas abelhas são consideradas europeias, ou africanizadas. Para destacar esse tipo de mel tradicional, Marcia também criou novos sabores para seus sorvetes, que levam o produto combinado a ingredientes como açafrão, lavanda, trufa branca, kefir com manga, gengibre e pão de mel (vendidos do tamanho pequeno ao grande, com preços a partir de R$ 12). Para os que não consomem leite, a opção são os sorbettos, como o de mel de Apis com leite de amêndoas. O de morango com mel é imperdível, com sabor intenso da fruta fresca. Tente também o de caipirinha de limão cravo com mel (mesmo preço dos anteriores).

Mas o destaque, de fato, vai para os meles das abelhas nativas, dóceis e sem ferrão, chamadas de meliponíneas. Elas já eram criadas pelos indígenas brasileiros muito antes da chegada dos europeus (que vieram com suas abelhas, claro, entre outros bichos). Conheça mais sobre elas aqui. O produto que elas conseguem elaborar é diferente do mel tradicional. Alguns variam do branco bem claro e opaco, como o de uruçu boca de renda, que resultou num sorvete delicadíssimo, com sabor pouco doce. O de jataí é um dos mais conhecidos e fáceis de encontrar, amarelo e perfumado, floral. A consistência de todos chama a atenção, escorrem fácil da colher, menos viscosos e com aromas mais complexos. O de uruçu amarela também é bastante floral, e o de borá chama a atenção por ser bem líquido, dourado, com aroma profundo e sabor quase herbal, medicinal.

Tanto os sorvetes como as degustações com mel das nativas serão servidos pelo menos até o final do mês.

Salve as abelhas
No dia que conheci os sabores exclusivos com esses meles, havia uma pequena caixa no balcão da sorveteria. Lá dentro, se você reparasse bem, notaria inúmeras abelhas sem ferrão, diminutas, trabalhando sem parar. A caixa em questão era da S.O.S. Abelhas Sem Ferrão, que luta para proteger as abelhas nativas do Brasil atuando com base em: educação ambiental, serviços ambientais, "militância" e pesquisa. Se você tem vontade de conhecer mais sobre essas pequenas notáveis e ajudar a cuidar delas, vale falar com eles e conhecer os trabalhos de resgate.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.