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Mais opções de carne bovina orgânica chegam ao mercado, conheça a diferença

Luciana Mastrorosa

25/07/2019 04h00

Crédito: iStock

O mercado de alimentos orgânicos, sejam de origem vegetal ou animal, tem crescido bastante nos últimos anos. No Brasil, em 2018, elevou-se em 20%, faturando R$ 4 bilhões e com a estimativa de continuar aumentando dois dígitos ainda neste ano, de acordo com dados Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis). Para os consumidores que preferem esse tipo de alimento, certificado e produzido de acordo com determinados princípios –como, por exemplo, o não uso de agrotóxicos, no caso dos vegetais — a oferta aumenta este ano com mais uma linha de carne bovina orgânica sendo lançada, da empresa Wessel — há ainda a linha da Korin, mais conhecida pela oferta de aves orgânicas e sustentáveis, além da possibilidade de comprar de pequenos produtores em feiras orgânicas. Hoje em dia, ainda é mais fácil encontrar aves e ovos orgânicos do que derivados do boi.

Diferenças entre orgânico e convencional

A carne orgânica vem de bois criados de  maneira não intensiva, diferente do que ocorre com a pecuária tradicional. Os bois pastam ao ar livre, com acesso a água limpa e sem o uso de ração, aditivos ou antibióticos. "O gado engorda menos e cresce de maneira natural. A alimentação do boi, exclusiva de pasto, acaba tendo influência no sabor da carne", afirma o empresário István Wessel. Em termos nutricionais, ainda é preciso que se façam mais estudos no sentido de comparar as carnes orgânicas das produzidas de maneira convencional. No paladar, o sabor é parecido, embora me pareceu mais delicado e sem aquele gosto rançoso de gordura que pode estar presente na carne bovina, especialmente se ela já está muito tempo na prateleira. Já a cor é bem diferente: nos cortes da Wessel a que tive acesso, a cor da carne era menos intensa, puxada para o rosado, um indicativo de que não se usa nada para intensificar o vermelho natural da carne. O uso da atmosfera modificada nas embalagens também contribui para preservar a cor do produto.

Ao contrário do que ocorre com legumes e verduras, a oferta de carnes orgânicas ainda é pequena para o consumidor. A estratégia usada por Wessel para se lançar neste mercado foi comprar animais inteiros, e não apenas os cortes. "Por isso optamos por focar na carne moída como carro-chefe da linha, que é uma forma de aproveitar todo o boi. Assim, conseguimos comprar os animais de maneira integral, criados de maneira orgânica, sem prejuízo para nós ou para os produtores", afirma o empresário. Para essa linha, são abatidos cerca de 100 animais por mês, seguindo um controle rigoroso para garantir a certificação orgânica.

Nutricionalmente falando, a carne bovina é um dos alimentos que mais contêm ferro, especialmente o do tipo heme, que é melhor absorvido pelo organismo, contribuindo para evitar a anemia. Além disso, oferece um teor elevado de proteínas e de gorduras saturadas. Dentre os principais nutrientes oferecidos por esse alimentos, estão minerais como magnésio (que ajuda no metabolismo de outros nutrientes), fósforo (contribui para a saúde óssea, junto com o cálcio), potássio (importante para os hipertensos e praticantes de atividades físicas intensas) e zinco (auxilia o sistema imunológico), além de vitaminas do complexo B – inclusive a B12, fundamental para o funcionamento neurológico.

Porém, o consumo excessivo de carne vermelha, seja ela orgânica ou convencional, não é recomendado: estudos sugerem que consumir carnes além do limite recomendado pode contribuir para aumentar o risco de câncer, especialmente o colorretal, como mostrei neste post aqui. Assim, a recomendação do Ministério da Saúde para o consumo de carne vermelha – que inclui a bovina – é de 300 g a 500 g por semana, ou seja, no máximo um bife pequeno, de cerca de 70 g, por dia. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que se consuma esse tipo de alimento duas vezes na semana, no máximo, alternando-o com aves, ovos e pescados.

Por isso, enquanto o mercado de orgânicos ainda é restrito e, muitas vezes, mais caro que o dos produtos convencionais, a escolha acaba recaindo sobre o consumidor. Se você procura por um alimento produzido de maneira mais natural, sem aditivos e criado a pasto e ao ar livre, a escolha da carne orgânica certamente será melhor. Ainda mais se o seu consumo de carne for restrito a poucas vezes na semana ou no mês, como pregam as recomendações que citei acima.

Em termos de preparos culinários, a diferença não existe: todos os métodos de cocção aplicados a carnes convencionais também se aplicam às orgânicas.

A marca Wessel, já conhecida por sua atuação no mercado de carnes premium, passou a investir nesse segmento e trouxe ao consumidor uma linha que compreende carne moída e cortes bovinos obtidos a partir de gado criado no Mato Grosso do Sul. A nova linha, que foi um dos destaques da Bio Brazil Fair deste ano, em junho, já está disponível em alguns supermercados, com cortes como bife ancho, bife de chorizo, filé-mignon, picanha, maminha e fraldinha, além da carne moída e do hambúrguer. A empresa está produzindo esse tipo de carne há cerca de um ano, mas só agora colocou os produtos no mercado, ao lado de outros cortes já tradicionais, de carnes premium, que comercializa desde 1958. Como ocorre com boa parte dos produtos orgânicos, o preço é um pouco maior do que o das carnes convencionais, mas os cortes são congelados ou protegidos em embalagens com atmosfera modificada, o que aumenta o tempo de prateleira, sem a necessidade da adição de nenhum tipo de conservante.

Você já provou carne bovina orgânica? Sentiu muita diferença? Conte para mim! Estou no Instagram, me adicione por lá.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.