3 cereais diferentes para adotar no dia a dia
Lembro até hoje a primeira vez que li um relato sobre um prato feito com painço. "Painço??", pensei. "Mas agora estão comendo até comida de passarinho??". Sim, estão. Estamos. E olha: é uma delícia! Brincadeiras à parte, a verdade é que tenho feito vários testes com comidas pouco usuais no nosso dia a dia. Não só porque eu gosto de conhecer novos sabores e testar receitas, mas também porque tenho lido e aprendido muita coisa sobre as vantagens de ter uma dieta rica em vegetais. Continuo onívora e pretendo seguir dessa forma, mas percebo realmente uma diferença na disposição ao diminuir um pouco o consumo de carne e apostar mais nos vegetais, de maneira geral.
Nessa história, descobri três ingredientes massa para acrescentar na sua rotina e abrir a mente para uma forma de se alimentar mais variada, econômica e, claro, prazerosa também. São eles: sorgo, painço e trigo sarraceno. Conto mais sobre eles logo abaixo e dou umas dicas de preparo, para quem quiser provar também:
Das paisagens africanas para o mundo: sorgo
Já falei desse cereal superantigo por aqui. De origem africana, por muito tempo foi deixado de lado no Brasil e era bem difícil achá-lo para comprar. Mas hoje não só a gente acha como tem vários pesquisadores desenvolvendo melhorias, variedades e estudando as suas propriedades nutricionais e gustativas. O sorgo tem grãos pequenos, arredondados e castanhos. Fiz como pedia a embalagem: lavei os grãozinhos, deixei de molho por oito horas e, no dia seguinte, escorri a água, fervi água nova e os cozinhei até ficarem macios. A embalagem pedia 20 a 30 minutos, para mim foram necessários 40 minutos, e ainda ficaram meio duros. Mas o bom é que eles ficaram um pouco crocantes e mantiveram uma película firme por fora, sem soltar amido como um arroz. Então, é só escorrer a água, temperar como quiser e comer quente ou frio. Preferi usar na salada, esfriei bem e misturei com escarola, abacate, coentro e muito limão, pimenta-do-reino, uma pitada de sal e azeite. Muito, muito bom. Além de gostoso, é rico em antioxidantes e não contém glúten, ótimo para quem possui doença celíaca. Os grãos podem também ser estourados como pipoca ou usados como base para mingaus e pães.
Painço, comida de passarinho também para humanos
Ao lado do sorgo, o painço é considerado um "cereal menos importante" no grande rol dos cereais consumidos no mundo. E, por aqui, é ainda hoje mais usado como ração animal, especialmente de pássaros. De fato, sua semente bem pequena, lisa e arredondada possui uma casca dura, cheia de fibras, que torna o painço difícil de comer se não for previamente descascado industrialmente. Vou te dizer: eu tentei. Cozinhei os grãos por meia hora em água com uma pitada de sal e alguns deles abriram espontaneamente, revelando um interior amarelinho e bem macio. Porém, a maioria permaneceu com a casca e, mesmo fáceis de mastigar, deixavam uma sensação incômoda de casquinha de pipoca sobrando na boca. Na hora da compra, o melhor é optar pelo painço descascado e comprado em lojas de produtos naturais ou mercados – nada de comprar no empório que vende só ração para animais, ok? O painço tem uma particularidade: possui um teor elevado de proteínas (de 16 a 22%!), o que o torna ótimo para quem segue dietas vegetarianas. E mais: descascado, ele cozinha rápido como arroz e tem um sabor delicado que combina com tudo (fique de olho na proporção de água, comece com uma xícara de painço descascado para duas de água). Eu usei o painço com casca, cozido, para fazer uma farofa bem crocante com farinha de milho, azeitonas, manteiga e cebola dourada. Mas o descascado, por ser macio, eu usaria em substituição ao cuscuz marroquino, por exemplo, com legumes cozidos, verduras salteadas, caldos…
Panqueca, pão, macarrão… Tudo de trigo sarraceno
Dessa trinca diferenciada, meu favorito até agora é o trigo sarraceno. Com grão pequeno (mas maior que os anteriores) e de curioso formato triangular, ele é considerado um pseudocereal, porque é uma planta parente do ruibarbo e da azedinha, dois vegetais pouco comuns por aqui. É naturalmente sem glúten, cozinha bem rápido e pode ser usado para fazer muita coisa boa: macarrão, panqueca, pães, bolos, tortas… Seu sabor é particular, lembra castanhas. Não é neutro como o trigo comum, tem algo mais vegetal nele, mas agradável. Já havia testado a farinha em uma torta vegana deliciosa, com recheio de abóbora cabochá bem temperada com especiarias e cebola. Não levava nada de trigo comum e a massa deu muito certo! Mas, desta vez, fui direto à fonte e comprei os grãos.
Para minha surpresa, em 20 minutos de cozimento apenas com água eles já estavam macios, cozidos e grudentinhos, com uma textura parecida com um arroz mais úmido. Usei uma xícara do grão para duas de água e achei que sobrou um pouco do líquido, poderia ter ficado mais sequinho. Temperei só com sal, azeite e pimenta e comi como acompanhamento para uma salada bem completa. Mas você pode fazer um crepe com os grãos crus, deixados de molho de um dia para o outro e batidos no liquidificador com água até obter um mingau fino. Depois é só fritar em frigideira quente untada, dourando dos dois lados, como uma panqueca. Na Bretanha, um dos pratos típicos é justamente um crepe fininho à base desse ingrediente. E o sobá, um tipo de macarrão japonês escuro e saboroso, também é feito de trigo sarraceno. Em casa, outra opção delícia para o café da manhã ou lanche é cozinhar os grãos com uma pitada mínima de sal e comer como mingau, finalizando com leite comum ou vegetal, frutas picadas, castanhas… O trigo sarraceno é rico em proteínas e supernutritivo.
E sabe o melhor? Nada disso custa caro e, em boas mercearias e empórios, dá para comprar a granel, ou seja, compre um pouquinho para testar e divirta-se. Você vai se surpreender como dá para trazer variedade para a sua mesa, sem gastar muito.