Cajá, cambuci e mais frutas nativas ricas em antioxidantes para provar

Conhece o cajá? (Crédito: iStock)

A diversidade brasileira nunca para de surpreender. O mais lindo de se morar em um país como o nosso é que a quantidade de climas, terras, altitudes e paisagens é tão diversa que, naturalmente, temos à disposição uma série de alimentos variados e poderosos. E que, infelizmente, a gente ainda conhece muito pouco, na nossa monotonia de comer sempre as mesmas coisas que estão no mercado.

Pois uma pesquisa brasileira recente vem jogar mais luz sobre a nossa biodiversidade, em particular sobre as frutas brasileiras. A pesquisadora e engenheira de alimentos Jackeline Cintra Soares, do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba (SP), desenvolveu um trabalho incrível de pesquisa com dez frutas nativas do nosso país. Muitas delas, de nomes pouco conhecidos para a maioria de nós, ainda mais os que vivem em grandes cidades.

Dentre as frutinhas, estão o cajá e o cambuci, duas das mais conhecidas da lista. Em conjunto com a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) –da Universidade de Campinas (Unicamp), Jackeline analisou o potencial antioxidante, anti-inflamatório e a composição fenólica dessas frutas. E descobriu que, além de deliciosas, elas são riquíssimas em compostos que fazem muito bem à saúde e ajudam a prevenir as doenças crônicas não-transmissíveis, como hipertensão e diabetes.

Araçá-boi, jaracatiá-mamão e mais frutas de nomes difíceis
Em sua pesquisa, Jackeline mapeou as seguintes frutas nativas: araçá-boi (Eugenia stipitata), cambuiti-cipó (Sagerectia elegans), murici vermelho (Bysonima arthropoda), murici guassu (Byrsonima lancifolia), morango silvestre (Rubus rosaefolius), cambuci (Campomanesia phaea), jaracatiá-mamão (Jacaratia spinosa), juquirioba (Solanum alterno-pinatum), fruta-do-sabiá (Acnistus arborescens) e cajá (Spondias mombin L.). Dentre essa lista de nomes que soam exóticos aos nossos ouvidos (e não deveriam), eu só tinha provado o cajá e o cambuci.

Este último, aliás, virou moda entre os chefs descolados brasileiros nos últimos anos, pois seu sabor bem ácido fica incrível em sobremesas, sucos e bebidas (e é excelente para curtir na cachaça). É uma fruta típica da Mata Atlântica, bem verdinha e com formato que lembra um disco-voador. Correu risco de extinção e, por isso, há diversas iniciativas para preservá-lo, como a Rota do Cambuci. O cajá, que me lembra uma azeitona grande e amarela, tem pele delicada, também é delicioso em refrescos e sorvetes, tem um azedinho-doce muito agradável, mas encontrei poucas vezes em São Paulo.

Força extra contra os radicais livres
Em relação à saúde, de todas as frutas que fizeram parte da pesquisa, algumas delas se destacaram por apresentarem maiores atividades antioxidantes e/ou anti-inflamatórias. São elas: araçá-boi, cambuiti-cipó, murici vermelho, morango silvestre e cajá. O cambuiti-cipó, o murici vermelho e o morango silvestre continham também antocianinas. A pesquisa mostra que a presença desses compostos em quantidade significativa sugere que essas frutas têm um potencial imenso na prevenção das doenças crônicas que tanto crescem no Brasil e no mundo, se forem consumidas com frequência, como um alimento funcional, mesmo. Ou seja: em vez de pagarmos caros pelas berries importadas, podemos conhecer melhor e provar as nossas próprias frutas anti-radicais livres.

É de emocionar a vastidão da nossa biodiversidade, não é? E me impressiona também como a gente ainda é capaz de conhecer mais frutas de outros continentes do que as nossas próprias. É por isso que considero cada vez mais importante saber o nosso entorno, aquilo que é típico daqui, nossos sabores e, principalmente, quem os produz e de que forma. Assim, a gente consegue contribuir, ainda que de pouquinho em pouquinho, com a preservação dessa rica biodiversidade – e, de quebra, ter alimentos novos, deliciosos e saudáveis para conhecer e amar.

Fica o convite para mim mesma e para você: vamos colocar mais ingredientes nativos no prato, de preferência produzidos de maneira sustentável, preservando a natureza? Meu desafio agora é provar as frutinhas poderosas da lista que ainda não conheço. Só preciso saber onde achá-las! Você já experimentou alguma delas? Tem na sua região? Me conta! Estou no Facebook e também no Instagram.