Todo ano, 15 milhões de toneladas de alimentos vão para o lixo. Veja como você pode evitar isso

Frutas que seriam descartadas só por serem feias. (Foto: Lu Mastrorosa)

Cerca de 15 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas no Brasil todos os anos, o que poderia contribuir para que mais de 20 milhões de brasileiros fossem alimentados. Os números, citados por Daniela Leite, do projeto Comida Invisível, trazem à tona uma realidade que, infelizmente, faz parte também da nossa rotina diária: o desperdício de alimentos em todas as esferas, da nossa casa aos grandes varejistas e produtores. "Metade do que está dentro do supermercado vai para o lixo, literalmente. E dados da FAO mostram que em 2050 faltará alimento no mundo, se seguirmos nessa toada de desperdício sem fim", diz Daniela.

Em aula conduzida no início do mês na Escola Wilma Kövesi de Cozinha, em São Paulo, Daniela comentou sobre esses dados impactantes e como a Comida Invisível trabalha para recuperar aqueles alimentos bons para consumo, mas que ninguém compra por serem feios, terem furinhos e pequenos defeitos naturais, como casca rachada ou queimada pelo frio. Basicamente, a instituição, baseada em São Paulo, atua em dois pilares principais: correto destino, ou seja, doar o que está bom para consumo para entidades e pessoas em situação de vulnerabilidade, principalmente na esfera de restaurantes e varejistas; e educação e conscientização para o consumo consciente e combate ao desperdício.

Se o primeiro pilar pode até não se aplicar a todos, o segundo com certeza é válido para qualquer pessoa – eu e você podemos começar agora, inclusive. Comprar menos coisas por vez e aproveitar o ingrediente de maneira integral já ajuda muito. Na aula de Daniela, a degustação incluía uma saborosa farofa feita de cascas de batata fritinhas e crocantes, salada de folhas perfeitamente boas e que seriam descartadas, suco das cascas de manga e abacaxi, farofa de pão amanhecido e batata doce recheada. Na Escola Wilma Kövesi, parceira do grupo, voluntários se reúnem periodicamente para desenvolver receitas com o que conseguem angariar. O resultado é doado para comunidades carentes ou comercializado em um food truck, também parceiro. É a prova de que, sabendo como preparar, dá para aproveitar tudo, de verdade.

Abaixo algumas dicas compartilhadas por Daniela para colocar em prática já:

Vá mais ao mercado e compre menos coisas por vez
Sabe aquela compra enorme de mês, que a gente lota o carrinho? Primeiro passo para o desperdício. Para as comidas mais frescas, como carnes, frutas e hortaliças, o melhor é comprar aos poucos, em uma ou duas saídas semanais. Assim, a probabilidade de deixar algo estragar passa mais longe. Comprou demais? Transforme em pão, salada, geleia, tortas… Fazer uma lista de planejamento de comidas para a semana ajuda muito!

Cascas de batata viram delicioso petisco crocante. (Foto: Comida Invisível)

Aproveite tudo o que puder, inclusive ossos e cascas
Cascas, ossos e aparas não precisam ser jogados fora. Mas, para isso, a primeira regra de ouro é: higienize muito bem tudo aquilo que comprar. Na Comida Viva, o costume é lavar legumes, verduras e frutas e deixá-los de molho em água com vinagre e 2 colheres (chá) de bicarbonato de sódio, por 30 minutos. Mas deixar de molho em água com hipoclorito (seguindo as instruções do fabricante) também é ótima pedida. Feito isso, use tudo que puder. As cascas de batata podem ser fritas, e as cascas de cebola e cenoura, talos de ervas, aparas de cogumelos e tampinhas de tomate podem ser usados para o caldo de legumes. Sabe a coroa do abacaxi? Plante e espere. Em alguns meses, ela dará diversos brotos que, no mínimo, vão servir como uma bela planta ornamental. Ossos de aves, boi e porco também rendem ótimos caldos (mesmo a carcaça do frango assado pode ser usada para isso). Aparas de legumes viram apetitosos recheios, e aquele pão duro de três dias pode virar uma farofa deliciosa. Use a criatividade!

Cenourinhas que ninguém compra por não serem esteticamente perfeitas e acabam virando lixo. (Foto: Comida Invisível)

Compre frutas e legumes feios
Eu sei, a gente se acostuma a escolher a fruta mais bonita, sem nenhum amassadinho. Mas sabe para onde vão aquelas frutas e hortaliças que ninguém quis? Sim, vão para o lixo. Parte do trabalho da Comida Invisível é justamente convencer os varejistas a mudar um pouco essa relação, oferecendo, por exemplo, as frutas mais maduras ou com pequenos amassados, a preços mais baratos, mas nem todos oferecem esse recurso ainda. A feira é um lugar mais fácil de seguir essa regra: se você chegar no final, com certeza pagará mais barato, vale a pena pechinchar.

Salada com legumes, verduras e molho de frutas que seriam descartadas. (Foto: Lu Mastrorosa)

Fique atento às promoções
Se você tem uma família pequena ou mora sozinho, não faz sentido comprar três dúzias de laranja só porque estão na promoção, certo? A menos que você vá dar uma festa ou planeja algo específico, evite o apelo das promoções. Elas muitas vezes acabam nos induzindo a comprar coisas além do que precisamos. Comprou demais e não aguenta mais comer a mesma coisa? Doe para os amigos. Ou, melhor ainda, comprem em conjunto, sai mais em conta e é melhor para todos.

Pondere a data de validade
Tem uma regra muito importante para restaurantes: primeiro que entra, primeiro que sai. Isso significa que tudo aquilo que foi comprado antes, deve ser consumido antes. Faz sentido, certo? Mas, na prática, muitas vezes deixamos latarias, grãos e outros produtos perdidos no fundo da despensa e só lembramos deles quando a data de validade já expirou. O que fazer? Aqui, Daniela dá a dica: primeiro, confira na embalagem se está escrito "válido até" ou "consuma antes de". No caso do primeiro, essa frase significa que a indústria garante a validade do produto até aquela data, mas não significa, necessariamente, que ele estará estragado no dia seguinte. Por isso vale ponderar caso a caso (mas, por favor, nada de comer produto estragado!). No caso de "consuma antes de", Daniela recomenda descartar o produto. Bom senso, sempre.

A Comida Invisível sempre precisa de voluntários. Conheça mais o trabalho deles aqui.