Orgânicos com pouco dinheiro? Veja sugestões de alimentos para priorizar
Com tanta notícia sobre a contaminação de alimentos por agrotóxicos, muitas vezes a gente se vê perdido na hora das compras. Toda semana alguém me pergunta algo sobre isso e a reclamação sempre vem junto: não tenho dinheiro para comprar orgânicos, são sempre muito caros, será que são orgânicos mesmo? Ou ainda: não posso comprar tudo orgânico, o que eu devo priorizar?
Eu mesma prezo muito a qualidade dos alimentos e o aproveitamento total do que compro, mas, mesmo assim, também não consigo comprar tudo orgânico, é inviável para minha realidade. Pensando nisso, comecei a pesquisar quais alimentos são mais contaminados e divido com você o que considero que vale mais a pena comprar.
Os mais contaminados
Periodicamente são divulgadas listas de alimentos mais contaminados por agrotóxicos, então vale sempre ficar atento a isso para basear suas compras. Nessa linha, encontrei uma pesquisa interessante do Greenpeace, lançada no fim do ano passado, em que foram analisados alimentos muito comuns nas feiras livres de São Paulo e de Brasília. O resultado é que 60% das amostras testadas continham resíduos de agrotóxicos e 36% apresentaram irregularidades, como a presença de defensivos não permitidos por lei e outros acima do limite máximo.
No mínimo é preocupante, principalmente porque os alimentos pesquisados estão na mesa do brasileiro com muita frequência. Dentre esses produtos, os que apresentaram mais contaminação foram: banana-prata, mamão formosa, laranja, pimentão verde, tomate, couve, café e arroz branco. O relatório, intitulado "Segura este abacaxi", pode ser baixado gratuitamente aqui.
O que priorizar?
Hoje em dia, é possível encontrar uma imensa variedade de produtos com o selo de orgânicos, de laticínios a farinhas, passando ainda por grãos e frutas frescas. Mas algumas categorias ainda são mais fáceis de achar e com melhores preços. Por isso, se você tem um orçamento bem restrito, minha dica é: comece pelos vegetais, principalmente aqueles que estão na época e estão disponíveis não só nas feiras de produtores, mas também nos supermercados. E alguns, como tomates e pimentões, costumam estar sempre nas listas de mais contaminados. Um relatório divulgado pela Anvisa, em 2016, aponta ainda alface e pepino nessa categoria. Eu gosto de incluir na lista também cenoura e batata, porque uso com muita frequência, além de ervas frescas.
O que me chamou muito a atenção na lista do Greenpeace foi a quantidade de frutas básicas da nossa dieta com resíduos de agrotóxicos. No relatório da Anvisa que citei acima, laranja e abacaxi também constavam na lista dos contaminados, assim como uvas e morangos. Ou seja, se quiser priorizar frutas, vale a pena começar por essas. A questão é que as frutas orgânicas costumam ser mais caras e mais difíceis de achar do que as verduras e legumes. Então, aqui vale a pena investir muito nas que estão na época, com a garantia de pagar preços melhores.
Dentre os industrializados, como café e arroz, citados na lista do Greenpeace, não é sempre que se encontram preços competitivos, mas vale a pena pesquisar. O mesmo vale para os laticínios: quando tem, acabam num segundo, mesmo tendo um preço mais salgado. Uma boa saída em relação ao café é procurar aqueles que possuem melhor qualidade e certificado de origem. Hoje, inúmeras marcas têm apostado na melhoria da qualidade dos grãos e também existem diversos produtores de pequeno e médio porte desenvolvendo cafés de altíssima qualidade.
Nesses casos, o produto tem maior valor agregado e os cuidados no manejo costumam ser bem severos. Ou seja, mesmo que o uso de agrotóxicos ocorra, ele será rigidamente controlado, minimizando a possibilidade de contaminação. Em relação ao arroz, um produto muito trivial na mesa do brasileiro, vale a pena encontrar fornecedores de orgânicos que vendam em quantidades maiores, para grupos. Dessa forma, sai bem mais em conta e você consegue também encontrar outras variedades, não só o arroz branco. Geralmente, tem cateto, integral, arroz vermelho e até o preto, que é uma delícia.
Outra dica: as feirinhas de orgânicos são uma oportunidade de falar diretamente com o produtor. E também de encontrar produtos da estação e que não são tão comuns nos mercados convencionais. De vez em quando, dá até para achar algumas pancs! Esta semana, a minifeira perto de casa tinha quiabo vermelho e batata-doce laranja, itens que nunca tinha comido na vida (nem visto para vender em outro lugar). Disse para a vendedora que não tinha reparado nesses produtos na lista (que eles enviam pelo celular toda semana), e sabe o que ela me disse? Que eles levam e não anunciam, deixam lá para oferecer para quem aparece, porque… às vezes não tem saída. Sim. E são produtos incríveis! Estavam com preço ótimo, eram muito saborosos e ainda ajudei o pequeno produtor e a minifeira do bairro a trazer novidades pouco convencionais (brasileiras e acessíveis).
Onde comprar?
O IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – fez um mapa das feiras orgânicas espalhadas pelo país e que podem ajudar a encontrar produtores perto de você. Além disso, vale pesquisar por feiras e minifeiras no seu bairro, ou reunir os amigos e conversar direto com um produtor, principalmente no caso de ingredientes mais caros ou mais difíceis de achar. Além disso, chefs e produtores têm tomado iniciativas para escoar produções que teriam como destino grandes redes de supermercado mas foram, de alguma forma, rejeitadas (por estarem foram do padrão, ou fora do prazo).
A chef Lis Cereja, da Enoteca Saint Vin Saint, de São Paulo, fez isso no início deste mês: promoveu um mercadinho em seu restaurante para escoar duas toneladas de tomates orgânicos. Na sequência, vieram também mexericas, abacates e outros produtos, que foram vendidos quase que a preço de custo. Foi um sucesso tão grande que a ideia é fazer o mercadinho periodicamente, ajudando não apenas a aproveitar esses produtos, mas também a oferecê-los por um preço bem mais acessível ao consumidor final.
O lado positivo dos agrotóxicos
Por fim, não se trata de sair apenas em defesa dos orgânicos e condenar toda e qualquer agricultura convencional. Mas é importante, sim, analisar o que vem sendo feito em ambas as áreas, além de cobrar fiscalização e aplicação correta dos agrotóxicos, quando forem necessários. Temos direito à informação sobre o que comemos e isso passa não apenas pelos produtos convencionais, mas também pelos orgânicos. Procure selos de origem, conheça os produtores, entenda como funciona a cadeia produtiva. Isso ajuda todos nós a melhorarmos, e muito, a qualidade do que colocamos no prato.
Por fim, se você ainda não leu, recomendo uma entrevista muito interessante que fiz aqui no Menu do Dia com o jornalista Nicholas Vital (leia aqui). Ele lançou um livro em defesa do uso responsável de agrotóxicos no ano passado. Para isso, o jornalista fez uma pesquisa extensa sobre o assunto e afirma que um dos grandes problemas em relação aos defensivos diz respeito ao mau uso dos produtos, com aplicações fora do recomendado ou colheita antes do tempo. Além disso, aponta a falta de fiscalização como outro problema grave associado ao tema. Por isso, nós, como consumidores, também temos de ficar em cima e cobrar produtos melhores e mais acessíveis para todos (e sem resíduos de venenos).
E você, costuma comprar orgânicos? Me conte! Estou no Facebook e também no Instagram.