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“Comer para não morrer”: como usar a comida para evitar doenças

Luciana Mastrorosa

31/05/2018 08h00

Crédito: iStock

Que comer brócolis é saudável, já não temos dúvida. Mas aposto que você não sabia que essa verdura ajuda a combater os danos causados pelo cigarro. Adivinhei? Embora eu adore brócolis, também não tinha conhecimento desse seu poder oculto. Fiquei sabendo no livro "Comer para não morrer" (editora Intrínseca, R$ 49,90), que acaba de ser lançado no Brasil. A obra é de autoria do médico norte-americano Michael Greger, com a colaboração do best-seller de vida saudável Gene Stone. O prefácio é de Bela Gil, que defende uma linha de alimentação bem similar à expressa no livro.

Greger já é conhecido por aqui, principalmente no meio das pessoas ligadas em alimentação saudável. Seu site, nutritionfacts.org, ficou famoso por trazer informações confiáveis sobre os alimentos em relação à saúde, algo cada vez mais difícil de se achar nesta nossa época de fake news, boatos e tudo o mais.

Em "Comer para não morrer", Greger comenta que começou a entender o poder curativo dos alimentos depois que viu sua avó se recuperar de uma doença cardíaca gravíssima. Ele era criança quando os médicos liberaram sua avó "para morrer em casa". Ocorre que ela, aos 65 anos, sentia dores tão absurdas no peito e nas pernas, provocadas pelo entupimento de suas artérias, que sua única alternativa era procurar algo que amenizasse isso. Encontrou essa alternativa internando-se na clínica do dr. Nathan Pritikin, pioneiro em medicina do estilo de vida, na Califórnia, Estados Unidos. O resto é história.

Como diz o próprio Greger, "minha avó chegou à instituição na cadeira de rodas e saiu de lá andando". O tratamento ao qual ela foi submetida consistia basicamente numa dieta baseada em vegetais (plant-based diet), e, em seguida, uma rotina gradativa de exercícios. O resultado? Não apenas se recuperou, como viveu mais 31 anos, morrendo com 96 anos. Nada mal para quem estava desenganada pela medicina tradicional, não?

Depois de contar essa história, Greger decidiu ser médico para ajudar mais pessoas a se curar por meio da alimentação, e comenta sua luta para promover a comida saudável como uma forma de evitar doenças e até barrar o avanço de alguns males mais comuns em seu país (e no mundo), como doenças cardíacas e pulmonares, câncer, diabetes e hipertensão.

Assim, em cada capítulo, o autor se dedica a comentar as causas para algumas das principais enfermidades e indicar alimentos que, comprovadamente, podem amenizar essas condições. Na parte 2, o livro traz ainda alguns dos principais "superalimentos" que devem fazer parte da dieta de maneira cotidiana, como oleaginosas, grãos integrais, linhaça, frutas e vegetais, e oferece algumas receitas para colocar as sugestões em prática.

Com base no livro, selecionei alimentos que podem ser incorporados na alimentação cotidiana para combater ou, ao menos, prevenir, colesterol alto (ligado a doenças cardiovasculares), malefícios do cigarro (associados ao câncer e outras enfermidades pulmonares), Alzheimer e demências, câncer de mama e doenças hepáticas. Eu, particularmente, não vejo os alimentos apenas como remédios, pois entendo que comer vai muito além do aspecto nutricional. Contudo, considero indiscutível o poder que os alimentos naturais têm para fazer nosso corpo funcionar de maneira mais harmoniosa e saudável, contribuindo para deixar as doenças bem longe. Quer coisa melhor? Além de deliciosos, são também bons para a saúde. Um salve para a natureza!

Castanhas-do-pará para baixar o colesterol

As doenças cardiovasculares representam uma parte importante da causa de mortes no mundo. Elas ocorrem quando placas de gordura se acumulam nas veias e artérias, causando aterosclerose. Até alguns anos, acreditava-se que a ocorrência desse tipo de condição era normal conforme o corpo envelhecia. No entanto, Greger cita estudos recentes que mostram que envelhecer não é uma doença, mas um reflexo do estilo de vida de cada indivíduo.

Assim, para baixar o colesterol e contribuir para deixar as doenças cardiovasculares bem longe, o médico recomenda o consumo de prosaicas castanhas-do-pará. Só não vale comer muito, pois elas são ricas em selênio: uma ou duas por dia são suficientes. Além disso, deve-se priorizar uma dieta rica em vegetais, como legumes, verduras, frutas, cereais e grãos integrais.

Brócolis e crucíferas para combater os males do cigarro

Tanto quem fuma quanto quem está sujeito ao fumo passivo (ou mesmo aos vapores intensos de frituras de carnes, como afirmou Greger) podem se beneficiar do consumo de brócolis e outras verduras crucíferas, caso do repolho e também da couve-flor. Greger ensina que esses vegetais têm o poder de bloquear carcinógenos, assim como a cúrcuma (também chamado de açafrão-da-terra). A cúrcuma, aliás, é considerada tão poderosa em termos de manutenção da saúde que o médico sugere o consumo de 1/4 de colher (chá) por dia, para quem não está acostumado a comer esse tempero (é uma especiaria muito usada na comida indiana, trazendo sabor, aroma e uma bonita cor amarelo-dourado aos pratos).

O consumo frequente desses alimentos, associado a uma dieta rica em frutas, verduras e legumes (portanto, rica em antioxidantes), ajuda a prevenir também câncer de pulmão e outras enfermidades do sistema respiratório. Porém, atenção: quem sofre de cálculo biliar deve evitar o consumo de cúrcuma, pois pode desencadear dor.

Frutas vermelhas e verduras escuras anti-Alzheimer

Embora o Alzheimer costume se manifestar tarde na vida, na faixa dos 70 anos, sabe-se que a doença pode começar bem antes, demorando décadas para se desenvolver. Assim, como Greger diz, nunca é tarde para começar a mudar os hábitos alimentares. No caso do Alzheimer e outras demências, ingerir frutas vermelhas e verduras escuras pode ser um poderoso aliado, principalmente por conterem uma grande quantidade de antioxidantes.

Mirtilos (blueberries), por exemplo, melhoram a capacidade de memória em idosos, e até o suco de cranberry (mesmo o industrializado) pode ser uma boa alternativa para aumentar a ingestão dessas substâncias benéficas. É claro que, se puder consumir os alimentos frescos e in natura, melhor. Além disso, como para todos os casos, manter uma dieta rica em verduras, legumes, feijões, frutas, oleaginosas, como nozes, e gorduras boas, como azeite de oliva, também exerce efeito protetor e benéfico para o cérebro.

Soja, chá verde, cogumelos e linhaça contra o câncer de mama

O câncer de mama é um dos principais fantasmas da saúde feminina. No livro, Greger afirma que mulheres asiáticas têm probabilidade cinco vezes menor de terem essa doença do que as norte-americanas. E por que isso ocorre? Aparentemente, as mulheres asiáticas têm alguns alimentos na sua dieta diária que lhes confere essa vantagem: soja e seus derivados, como tofu e missô; chá verde; e cogumelos.

Os dados citados por Greger são impressionantes: "os hábitos de consumir cogumelos e beber pelo menos o equivalente a meio saquinho de chá-verde por dia foram associados a chances quase 90% menores de desenvolver câncer de mama". Além desse trio de ouro, o médico recomenda ainda o consumo de – adivinhe? – verduras, principalmente brócolis e couve, e também de linhaça como forma de prevenir a doença. Quer incluir cogumelos na sua dieta? Comece por aqui.

Aveia e café para evitar doenças no fígado

Muitas pessoas têm sofrido com a chamada doença gordurosa do fígado, nem sempre associado ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Inclusive crianças! Isso é consequência direta do estilo de vida e da dieta, principalmente para os que preferem comidas industrializadas, com altos teores de gorduras e açúcares, e ingerem poucos alimentos frescos.

No livro, Greger aponta dois alimentos que podem evitar as doenças hepáticas: farinha de aveia e café (amei a parte do café, preciso dizer!). Trocar os grãos refinados pelos integrais também auxiliam a prevenir e combater males que afligem o fígado. Por isso, no seu próximo café da manhã, já sabe: adicione uma porção de farinha de aveia e mantenha o seu amado cafezinho. Seu fígado agradece!

Este é um pequeno apanhado de tudo o que os especialistas trazem em "Comer para não morrer", e que estão em linha com o que a gente sempre fala aqui: optar por uma dieta baseada em comida fresca e natural, com muitas frutas, verduras, legumes, oleaginosas e grãos integrais, contribui, e muito para sua saúde. Mas é bom lembrar: antes de cortar ou incluir algo na sua dieta, consulte sempre um profissional de saúde, que será capaz de auxiliá-lo a promover mudanças benéficas no seu estilo de vida. Inclusive, na sua alimentação.

E para você, comida é prazer ou medicamento? Ou uma mistura dos dois? Conte para mim: estou no Facebook e também no Instagram.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.