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Siri está na época, é rico em cálcio e proteína e pobre em gordura

Luciana Mastrorosa

04/04/2019 04h00

Crédito: Divulgação

Nas cidades litorâneas, é mais comum o consumo de siris e caranguejos, crustáceos de carne macia e clara, uma delícia em ensopados, caldos e sopas, entre outros preparos.

Siri e caranguejo são a mesma coisa? Na realidade, todo siri é um caranguejo, pois pertencem à mesma família. A diferença está no tamanho e nas patas: os siris são menores e suas patinhas traseiras são mais achatadas e permitem que eles nadem. Além disso, as laterais do corpo do siri são pontiagudas. Os caranguejos são maiores, de carapaça mais arredondada e todas as suas patinhas são bem pontudas. Mas as propriedades nutricionais de ambos são parecidas: esses animais são excelentes fontes de proteína e pobres em gorduras, além de serem ricos em cálcio, mineral fundamental para a manutenção de ossos e dentes. Por isso, são um alimento muito interessante para quem está em dietas de emagrecimento, já que fornecem um bom aporte de proteínas, mas com quase zero de gordura.

Além disso, fornecem uma boa quantidade de minerais como o magnésio, que favorece o metabolismo; fósforo, essencial, em conjunto com o cálcio, para fortalecer ossos e dentes; além de potássio e sódio em boas quantidades. Também oferece zinco, que atua no fortalecimento da imunidade, favorece a saúde mental e protege contra doenças crônicas. Dentre as vitaminas, siris e caranguejos contêm niacina, ou vitamina B3, que auxilia a remover substâncias tóxicas do organismo e atua no processo de digestão e absorção de nutrientes, favorecendo a produção de energia.

Em São Paulo, a chef capixaba Angelita Gonzaga, do restaurante Arimbá, em Perdizes, está apostando no siri como uma forma de diversificar o cardápio e valorizar o ciclo do manejo sustentável desse animal. Em seu restaurante, ela prepara pratos com siri mole – aquele que pode ser consumido inteiro, pois é capturado no momento em que está trocando de carapaça, ou seja, quando fica sem sua proteção natural. Também aposta no siri catado, aquele que tem a carapaça dura, porém com a carne macia e delicada em seu interior.

A chef realizou o workshop "O Siri da Pesca à Mesa", no fim de março, para apresentar esse alimento aos paulistas e comentou de suas propriedades nutricionais. "Sua carne é leve, macia, proteica e de fácil digestão. A principal preocupação é encontrar um fornecedor de qualidade, pois é um alimento bastante perecível", diz a chef.

Pesquisadora da alimentação brasileira, Angelita destaca o trabalho da comunidade da Ilha das Caieiras em Vitória, no Espírito Santo, que se tornou um dos principais polos gastronômicos e a principal fonte de renda de lá, com o trabalho das desfiadeiras de siri. "Elas são responsáveis por toda a transformação e parte do patrimônio cultural de Vitória". Já o siri mole com o qual a chef trabalha vem de Santa Catarina, onde é produzido também de forma sustentável.

Como preparar siris e caranguejos

A forma de preparo do siri e do caranguejo são parecidas. Se adquirir o animal inteiro, ele deve ser fervido em água para depois ter sua carapaça aberta e a carne removida e desfiada. Mas, hoje em dia, é possível comprar a carne já pronta para usar em receitas, como a famosa casquinha de siri, saladas frias com molhos cítricos, bolinhos, ensopados… Há também a opção de comprar o siri mole e prepará-lo inteiro, principalmente como moqueca.

À moda capixaba, como a receita que a chef Angelita Gonzaga dividiu com o Menu do Dia (veja receita ao final do post), o siri mole é preparado com ingredientes muito simples, mas que resultam num prato substancioso e rico em sabor e nutrientes. Leva azeite de oliva, fonte de gorduras monossaturadas, uma das mais saudáveis de todas; tomate, rico em licopeno, antioxidante que evita o desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer e problemas cardiovasculares; coentro e cebolinha fresca, ervas ricas em fibras, antioxidantes e vitaminas, além de pimentões, que contribuem com carotenoides, que ajudam a preservar a visão e a manter as doenças crônicas longe também.

A culinária baiana também tem sua moqueca de siri mole, mas a diferença principal está na adição de leite de coco (especialmente o fresco) e do azeite de dendê. Os dois são fontes de gorduras saturadas, de origem vegetal, além de fornecerem vitaminas do complexo B e, principalmente no caso do dendê, carotenoides, precursores de vitamina A. Seja na versão capixaba ou na baiana, moqueca de siri mole é uma boa ideia para consumir bastante proteína, cálcio, gorduras boas e antioxidantes. Se preferir uma versão mais leve, opte pela primeira, que leva menos gordura. Mas, claro, tudo da receita que você irá testar.

Aprenda abaixo como preparar a moqueca de siri mole à moda capixaba, da chef Angelita Gonzaga, do restaurante Arimbá:

Moqueca de Siri Mole à Moda Capixaba, de Angelita Gonzaga
Rendimento: duas porções

Ingredientes:

500 g de siri mole
1/2 xícara (chá) de azeite de oliva
2 dentes de alho picados
1/2 colher (chá) de colorau puro (urucum)
1 cebola grande em rodelas
4 tomates bem maduros em rodelas
3 rodelas de pimentão verde
3 rodelas de pimentão vermelho
3 rodelas de pimentão amarelo
1/2 xícara (chá) de coentro picado
1/2 xícara (chá) de cebolinha picada
Sal a gosto

Modo de preparo:

Retire os siris moles da embalagem com cuidado, pois são bem delicados. Reserve. Em uma panela, preferencialmente de barro ou cerâmica – mas não de alumínio – coloque metade do azeite e o alho. Deixe refogar um pouco e adicione os siris. Observe a mudança de cor do animal, que ficará avermelhado. Retire do fogo e reserve.
Em outra panela, coloque o restante do azeite, as cebolas, os tomates e os pimentões, distribuindo tudo em camadas.

Deixe refogar até obter um molho denso. Adicione os siris refogados, delicadamente, e regue com o molho. Tempere com sal a gosto. Tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por cerca de 20 minutos, sempre observando o molho, para não secar demais. Quando faltar cerca de 3 minutos para finalizar, adicione o coentro e a cebolinha picados, tampe novamente e deixe abafar. Sirva bem quente, com arroz branco e farofa.

Dicas: os capixabas costumam usar panelas de barro para preparar a moqueca, se tiver uma, utilize sem medo. Caso prefira a moqueca à moda baiana, com leite de coco, a chef recomenda adicionar 1/2 xícara (chá) de leite de coco, de preferência caseiro. Caso goste, finalize com um fio de azeite de dendê.

Sobre a Autora

Luciana Mastrorosa é apaixonada por escrever, cozinhar e comer. Jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora da área de alimentação, passou pelos principais veículos do país. Formada no Le Cordon Bleu Paris e Université de Reims Champagne-Ardenne, atualmente cursa o Mestrado em Nutrição Humana Aplicada, na Universidade de São Paulo. É autora do livro Pingado e Pão na Chapa - Histórias e Receitas de Café da Manhã (editora Memória Visual) e do e-book "Natal Feliz - 30 Receitas Incríveis para a Sua Ceia".

Sobre o Blog

Menu do Dia é o blog de culinária, receitas, gastronomia e nutrição, da jornalista e pesquisadora Luciana Mastrorosa. Aqui, você vai encontrar notícias, reflexões, receitas, degustações e muito mais sobre uma das melhores coisas da vida: comer.